
A verdade não se intimida. E por isso, vez ou outra é preciso em nome da nossa categoria expor um padrão psicológico e ético que precisa ser desmontado. No jornalismo, a primeira diretriz é simples: apurar, confirmar, se munir de provas e só então publicar. A segunda é ainda mais sólida: sustentar aquilo que é verdadeiro, mesmo quando confrontado por quem prefere a conveniência da mentira à realidade. Foi exatamente esse o cenário quando, após noticiar um andamento processual envolvendo Diogo Nogueira, o filho e sua ex-esposa, Milene, recebi dela uma mensagem acusando-me de mentir, inventar e exigir uma retratação. O curioso e revelador é que bastaram segundos para que os próprios documentos públicos enviados por este colunista desmontassem sua versão. A verdade, afinal, não requer defesa; apenas exposição.
A tentativa dissimulada de solicitar uma retratação por uma notícia verdadeira e verificável revela um hábito perigoso de alguns: a crença de que a narrativa pessoal tem primazia sobre o registro oficial. É o velho impulso de tentar moldar a esfera pública através da pressão privada, pressionar o mensageiro para ver se a mensagem cai. Só que, no Brasil contemporâneo, processos são digitalizados, acessíveis, rastreáveis. A ideia de que se pode intimidar um jornalista para que ele negue um fato constante e verdadeiro é uma fantasia que ignora não só o funcionamento da imprensa, mas também o próprio Estado de Direito.
Não pude deixar de trazer essa reflexão (e que me desculpe a Milena), justamente por ser um episódio que nos ofende enquanto profissional, e que, a bem da verdade, aponta para um mecanismo clássico: a negação como defesa. Quando a realidade é desconfortável, cria-se uma história paralela que a suavize. E aí sim, em alguns casos é quando entra a grande mentira. E mais: projeta-se no outro, no caso, no jornalista (EU), a responsabilidade por esse desconforto. É como se dizer “isso não existe” pudesse apagar a verdade; como se pedir "desminta” pudesse corrigir o mundo externo. É um gesto infantil, mas não raro. E quando confrontado pelo fato, o silêncio final da interlocutora não foi apenas constrangido, foi sintomático.
Que fique claro a todos: subestimar a inteligência de quem apura é tiro no pé. Jornalistas não trabalham com achismos, mas com provas; não se dobram a pressões particulares, mas se sustentam na verificação. A tentativa de desqualificar uma matéria verdadeira não só falha em apagar os fatos, como expõe a fragilidade moral de quem tenta manipular a narrativa. E esse tipo de atitude não causa apenas irritação, causa preocupação. Porque atenta contra a própria lógica civilizatória.
Essa coluna é, portanto, mais que um relato: é um aviso. A qualquer pessoa que cogite confrontar a imprensa com bravatas e falsidades, convém lembrar que o tempo dos blefes acabou. Processos são públicos. Documentos existem. A verdade permanece, e a mentira sempre encontra o seu limite. Quem insiste em subestimar o trabalho jornalístico corre o risco de ser desmascarada em segundos, como aconteceu aqui. E que isso sirva como uma lição simples, elegante e definitiva: não se enfrenta a verdade com insolência, mas com fatos. E quem não os tem, deveria ao menos ter a prudência de ficar em silêncio.
