A Globo viveu semanas de euforia após o faturamento milionário da novela Vale Tudo, comemorado internamente como um marco histórico e um respiro financeiro raro em tempos de reestruturação agressiva. Empolgada com os números, a alta cúpula chegou a comunicar às direções dos programas de entretenimento que, finalmente, haveria uma verba extra para investimentos nos próximos meses, um gesto recebido como celebração pela direção de alguns programas da casa, que chegaram a iniciar novos planejamentos com a promessa.
Nos corredores, a sensação era de alívio: após anos de enxugamento, viria, enfim, um novo ciclo de fôlego. Mas a celebração durou pouco. Mais de 30 dias após o anúncio otimista, o financeiro jogou um balde de água fria na direção artística: a liberação das verbas estava suspensa. A justificativa oficial é que o faturamento de Vale Tudo, embora robusto, precisava ser reinserido em uma "política de previsibilidade para investimentos prioritários, principalmente o desenvolvimento das novelas verticais no Globoplay, consideradas estratégicas para a expansão do grupo". Na prática, o pirulito que havia sido colocado na boca dos programas de entretenimento foi retirado antes da primeira lambida.
A reviravolta criou um clima de tensão e certo ressentimento nos bastidores. Produtores e diretores, que já planejavam reestruturações, quadros novos e até reforços de equipe, agora se veem obrigados a engavetar projetos e recalcular expectativas. O tom é de frustração e, segundo fontes internas, a palavra “decepção” voltou a circular com força entre equipes que se sentiram enganadas por uma promessa feita no calor da empolgação, e depois desfeita com a frieza habitual dos números.
Para piorar, a informação de que três programas seguirão como exceção, Mais Você, Domingão com Huck e Altas Horas, acentuou a sensação de favoritismo. Considerados hoje pilares estratégicos do entretenimento da casa, eles continuam contemplados no planejamento de investimentos, alimentando uma leitura incômoda: há produtos que a Globo está disposta a proteger a qualquer custo, enquanto o restante da grade terá de se contentar com a contenção. Nos bastidores, ninguém diz em voz alta, mas todos entendem a mensagem: o pirulito existe: só não é para todos.