Peça enviada ao mercado
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Peça enviada ao mercado


A campanha do BBB26 que tenta vestir o público com o título de “Big Boss” escancara uma operação estética e simbólica que, em vez de soar moderna, revela a "ansiedade e despeito" da Globo diante da saída de seu maior arquiteto. Ao forçar a transferência de um conceito consolidado e construído ao longo de décadas, como assinatura autoral, para uma massa amorfa chamada “Brasil”, a emissora não apenas desidrata o peso desse símbolo, como tenta apagá-lo para reconstruí-lo em outro corpo. É marketing sádico e que acabou desagradando parte da equipe do reality.

Nos materiais divulgados para o mercado, a Globo praticamente redesenha a mitologia do reality: o controle, a decisão, o olhar vigilante, todos os elementos que por anos foram associados a uma figura específica, o Big Boss, agora são oferecidos ao público como se fossem uma passagem natural de bastão. Mas a operação é tão brusca que soa publicitária demais para ser crível.

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Como se dizer, repetidamente, que “o Big Boss é você” pudesse convencer o telespectador a ocupar um espaço que nunca lhe pertenceu, pelo simples fato de que sempre foi o jogo que moldou o público, nunca o contrário.

Esse esforço de reposicionamento se agrava pela estética dos materiais. Cada frase em degradê amarelo-laranja, cada GIF reciclado de temporadas antigas, cada slogan exaltando “plot twists” e “laboratórios” em que "Você é o Big Boss" produz a sensação de um discurso que tenta parecer inovador, mas carrega a urgência de quem precisa provar algo. A narrativa vende empoderamento, mas escamoteia um desconforto interno: a ausência de quem, gostem ou não, foi o cérebro e o rosto invisível da engrenagem. Ao reconfigurar o significado de Big Boss sem reconhecer essa ruptura, a Globo cria mais ruído do que renovação.

Há ainda a dimensão simbólica. O título de Big Boss, para o público, jamais foi um desejo: foi uma entidade mítica e orgânica, um olho organizador, um poder externo que dava coesão ao caos da casa. Transformar isso em “participação” não é apenas uma estratégia de marketing; é um rebaixamento do próprio conceito. É a tentativa de dissolver uma assinatura autoral por ressentimento, como se apagar o nome fosse curar a ferida. O resultado é um vazio: sem a figura que sustentava o mito e sem a coragem de assumir a transição com ética.

Na minha opinião, o que a campanha do BBB26, que carrega o slogan "O  Big Boss agora é você" expõe, não é a força do público, mas a fragilidade da emissora. Ao tentar reescrever a história do Big Boss, a Globo parece pedir ao espectador que aceite uma nova realidade sem questionar o que se perdeu no processo. Mas público nenhum gosta de ser tratado como distração de crise. E é justamente por isso que, ironicamente, a narrativa que tenta redistribuir o poder acaba denunciando o que pretendia encobrir: que o vazio deixado por quem saiu ainda não foi preenchido e marketing nenhum dá conta de ocupar esse espaço. Conversa para boi dormir e que tem apenas dois objetivos: transferir a outros o adjetivo, e lavar as mãos com eventual escolha errada de elenco, como foi a edição anterior, que fracassou.

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