Zezé di Camargo e seu amor pelo gado
Reprodução/TV Record
Zezé di Camargo e seu amor pelo gado


Há um protocolo básico, quase tão elementar quanto o manual de instruções de um controle remoto: quando uma emissora inaugura um novo canal, convida-se o presidente da República, o governador do estado e o prefeito da cidade. Não é militância, não é provocação ideológica, não é “lacração”, muito menos opinião. É protocolo. É institucionalidade. É o bê-á-bá da comunicação pública e privada em qualquer democracia minimamente funcional. Transformar isso em escândalo é um surto tão grande quanto rezar para pneu, dizer que vacinas não tem eficácia, e, em último plano, acreditar que a terra é plana.

Foi sob esse delírio que Zezé de Camargo resolveu gravar um vídeo indignado, inaugurando sua crise com um erro histórico da língua portuguesa: “todo mundo sabem...", como se a gramática também tivesse sido convidada indevidamente. A partir daí, o cantor decidiu que o correto seria cancelar um especial de Natal, atitude tão ética quanto rasgar contrato em guardanapo de churrascaria. Antiprofissional, irresponsável e, sobretudo, desproporcional. Discordar é legítimo; tentar impor veto simbólico a uma emissora inteira é outra coisa. É chantagem imoral.

Mas o Brasil, convenhamos, não está exatamente interessado em saber se Zezé concorda ou não com a presença de Lula em um evento protocolar. O país tem uma curiosidade muito mais antiga, muito mais persistente e muito menos esclarecida: afinal, quem era Priscila Dantas? Quem, dentro do núcleo familiar, operava um perfil falso para atacar o próprio filho e a própria nora? Essa é a pergunta que atravessa o tempo, as timelines e o constrangimento coletivo. Essa é a resposta que nunca veio. Zezé não consegue dar uma resposta pro quintal da própria casa e quer fazer regra no SBT.

Há algo de profundamente contraditório, para não dizer cômico, em alguém que jamais conseguiu esclarecer o caos digital dentro da própria casa querer posar de fiscal moral de uma emissora de televisão. Quem não controla o quintal não tem condições de opinar sobre a praça pública. Quem não resolve conflitos domésticos básicos não está habilitado a apontar o dedo para rituais institucionais do Estado brasileiro. É direito constitucional discordar; não é direito brincar de censor.

O SBT, aliás, faria muito bem não apenas em cancelar o especial, mas em fechar as portas com chave, trinco e cadeado simbólico para um cantor que acaba de chamar as filhas do maior comunicador da história da televisão brasileira de prostitutas. A memória institucional também é um valor democrático. E o Natal, definitivamente, não pede desafinação ética, nem desaforo escondido de opinião. Esse e só mais um capítulo entregue a sociedade por quem ainda não aprendeu nada com a democracia. No mais, ele deve desculpas públicas e urgentes às filhas de Silvio Santos. E isso, é pra ontem.

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