
A recente condenação da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) a 10 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal marca um dos episódios mais escandalosos e inadmissíveis já protagonizados por um representante eleito pelo povo. Segundo a Procuradoria-Geral da República, Zambelli foi a responsável intelectual pela invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), crime executado pelo hacker Walter Delgatti Neto. O objetivo da ação? Incluir no sistema oficial um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, como se o próprio magistrado tivesse assinado sua sentença. É a barbárie travestida de mandato.
Mais do que um atentado cibernético, trata-se de uma tentativa orquestrada de deslegitimar a Justiça brasileira, semeando o caos e instaurando a desconfiança sobre decisões judiciais. A deputada e o hacker também inseriram um alvará de soltura fraudulento que, se levado a cabo, teria libertado um condenado do Comando Vermelho — um criminoso com pena superior a 200 anos de prisão. Isso não é mais apenas crime político: é flerte com o submundo, é traição institucional. Zambelli não apenas brincou com o fogo — ela tentou incendiar a própria Constituição.
Que tipo de parlamentar se presta a isso? Que tipo de figura pública, com assento na Câmara Federal, trama a desestabilização do Judiciário usando um hacker notório como executor? A resposta é dura: o tipo de parlamentar que nunca deveria ter sido eleito. Ou, sequer, existido. O tipo de figura que confunde imunidade com impunidade. Zambelli feriu, com requintes de premeditação, a ética, o decoro e a confiança pública. Sua presença no Parlamento é uma afronta a qualquer cidadão que ainda acredita nas instituições.
A condenação é necessária, mas não é suficiente. É preciso que o Congresso — e sobretudo o eleitorado — compreendam a gravidade deste caso. Não se trata de divergência ideológica ou excesso retórico. Trata-se da subversão do próprio sistema de justiça por quem deveria protegê-lo. A parlamentar não combateu ideias com ideias: ela recorreu à fraude, à mentira, à sabotagem. Isso não é liberdade de expressão, é crime com agravantes. Usou seu cargo como escudo e arma. Se a política brasileira ainda pretende se reconciliar com a sociedade, precisa isolar esse tipo de comportamento e mostrar que o sistema ainda tem mecanismos de defesa. É hora de varrer o cinismo para longe dos plenários. O mandato não é salvo-conduto para golpismo.
O Estado democrático não pode tolerar sabotadores infiltrados entre seus representantes. Ética não é detalhe. É o alicerce. E quem tenta corroê-la de dentro merece mais que repúdio: merece ser expulso da história como exemplo do que não se pode repetir. Justiça, neste caso, é não esquecer jamais.