Vale Tudo
Reprodução/Internet
Vale Tudo

Confiar em alguém é, talvez, um dos gestos mais generosos que o ser humano é capaz de oferecer. É abrir o cofre das próprias fragilidades e entregar a chave, acreditando que ela será usada apenas para proteger. Não importa se temos 15 ou 95 anos, essa escolha sempre envolve um risco, mas também carrega uma esperança silenciosa: a de que a lealdade seja recíproca. Em Vale Tudo, a trama entre Ivan e Luciano revela o quanto essa confiança pode ser um salto no escuro, às vezes, para o abismo. Quem nunca tomou uma dessas pelas costas?

Ivan acreditou em Luciano. Mais do que isso: estendeu-lhe a mão, dividiu conquistas quando subiu na repartição da TCA, abriu caminhos. Foi o tipo de confiança que não se constrói apenas com palavras, mas com gestos repetidos, com oportunidades oferecidas, com a partilha de sonhos e segredos. Luciano cresceu nesse terreno fértil que Ivan cultivou. Dividiram o mesmo apartamento. Mas, ao chegar mais alto, a tentação de lucrar com aquilo que sabia e com quem sabia fez florescer nele algo mais sombrio. Ao levar informações de Ivan para Odete, como fotos e vídeos, não traiu apenas um amigo de trabalho, que dividia com ele um apartamento. Traiu a própria história que construiu ao lado dele, ou seja, traiu também a sua própria história. Pessoal e profissional.


Esse tipo de virada amarga não é exclusividade de novelas. Ela se repete em silêncios de salas de escritório, em mesas de bar, em reuniões de família. Quantas vezes não entregamos ao outro as nossas quedas, nossos medos, nossas hesitações, e descobrimos, mais tarde, que essas mesmas confissões viraram moeda de troca? É nesse ponto que a confiança e a falsidade se encontram como extremos da mesma corda: de um lado, a pureza do acreditar; do outro, a frieza de manipular o que se sabe para benefício próprio.

A falsidade não nasce do nada. Ela se infiltra pelas brechas do desejo, da ambição, do ressentimento, às vezes da simples vaidade. É um ato calculado, mas que só existe porque, antes, alguém acreditou. Essa ironia cruel é uma das maiores provas de que o ser humano carrega, lado a lado, a capacidade para o bem e para o mal. E talvez seja justamente por isso que episódios como o de Ivan e Luciano continuam correndo por aí: eles revelam o quanto é frágil o fio que separa a lealdade da traição.

Mas quer saber: confiar é sempre um ato de fé. É apostar que, ao abrir a porta, a pessoa que entra vai ajudar a construir, não destruir. Que vai carregar junto, e não arrancar o que foi conquistado. É um risco que corremos porque, apesar de todas as histórias de punhaladas pelas costas, o mundo ainda se sustenta, e só se sustenta, sobre a confiança. E se a falsidade é inevitável como sombra, que a nossa escolha seja sempre a de permanecer no lado da luz.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!