
A saída de William Bonner do Jornal Nacional abriu uma análise interna na emissora, que deixou no estudo margem para uma possível perda de público após a saída do jornalista do telejornal. Internamente, profissionais responsáveis pela análise descreveram o bom momento de César Tralli, mas deixaram no documento a observação que ainda possui “etiqueta raquítica diante de Bonner” , expressão usada para traduzir a sensação de popularidade entre um e outro. Bonner, à frente do telejornal há quase três décadas, tornou-se peça central em uma negociação delicada entre emoção, estratégia e imagem institucional.
Fontes afirmam que a emissora tentou há alguns meses convencer Bonner a permanecer até abril, alinhando sua despedida à estreia de um novo cenário para o JN. A ideia era que a transição tivesse impacto simbólico, com a chegada da tecnologia renovada representando também uma nova fase editorial. Mas, segundo estas mesmas fontes, o jornalista teria recusado a proposta, mantendo firme sua decisão de deixar a bancada antes dessa mudança estrutural, que passou a ser aplicada gradualmente.
Esse impasse revela mais do que uma questão de agenda. Para muitos dentro da Globo, a resistência de Bonner evidencia a força de sua autonomia profissional e o peso que sua figura conquistou ao longo dos anos. Ele não apenas apresentou o telejornal, mas também ajudou a moldar sua identidade, o que torna qualquer negociação em torno de sua saída especialmente sensível.
Enquanto os executivos buscaram uma solução elegante, o clima nos corredores não era tão leve assim antes da confirmação da data do anúncio. A emissora sabe que a despedida do âncora será um divisor de águas, e teme que uma transição mal conduzida afete tanto a audiência quanto a moral interna.
Entre incertezas e disputas silenciosas, a Globo encara um desafio que mistura estratégia empresarial e emoção coletiva: como se despedir de um rosto que, para milhões de brasileiros, se confunde, junto a voz, com a própria história do Jornal Nacional, e também da TV Globo.