Entrevista pessoal: Hugo detalha como a carreira mudou ao se assumir gay
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Entrevista pessoal: Hugo detalha como a carreira mudou ao se assumir gay


Natural de Maringá (Paraná), Hugo Angeli Bonemer, mais conhecido como Hugo Bonemer, tem se revelado um profissional multifacetado no cenário artístico. Com 34 anos, ele vem se firmando cada vez mais como um ótimo apresentador no Canal L!ke, que é dedicado ao público apaixonado pelo mundo do entretenimento: filmes, músicas, séries, documentários, esportes, culinária, variedade, animação, estilo de vida e muito mais. O ator já possui em seu currículo grandes papeis como em Hair, Rock in Rio, O Musical, Ordinary Days e Yank! Em O Musical, onde interpretou o correspondente de guerra Stu, terminou concorrendo ao prêmio Prêmio Cenym de Teatro como melhor ator.

Além desse amplo currículo em musicais, o paranaense é também conhecido do grande público por novelas como Malhação, Alto Astral e A Lei do Amor, todas da TV Globo. Ainda na TV ele esteve na HBO nas séries Preamar, O Negócio e viveu o seu primeiro vilão, Erick Andreazza, em A Vida Secreta dos Casais, em suas duas temporadas. No GNT participou de As Canalhas e Os Homens são de Marte e é pra lá que eu vou, além de 220v no Multishow.


O ator fez parte do elenco da terceira temporada do quadro “Show dos Famosos”, da TV Globo, exibido no Domingão do Faustão, quando teve chance de homenagear nomes como Lulu Santos, Luan Santana, Amy Winehouse, Freddie Mercury, Britney Spears, Adam Lavigne, Oswaldo Montenegro e Israel Kamakawiwo'ole e ainda acabou se garantindo na final do programa. No cinema ele esteve em Confissões de Adolescente, dublou o personagem Tronco para a animação Trolls e Trolls 2, da Dreamworks, e esteve no elenco do longa Minha Fama de Mau, onde fez o cantor norte-americano Bobby Darin, de grande sucesso na década de 1960 e que era ídolo de Erasmo Carlos.

Hugo viveu teatro um herói nacional em “Ayrton Senna, O Musical”, que após temporadas no Rio e São Paulo, foi filmado e transmitido no dia 1 de maio daquele ano quando se completava 24 anos da morte do ídolo nacional. Para viver Senna, Hugo passou por quatro semanas de audições. Na última, teve que cantar uma música inédita, composta por Claudio Lins especialmente para o musical. Na produção da Aventura Entretenimento, ele liderou o elenco na pele de Senna. "Fiquei muito feliz e emocionado. Senti a responsabilidade, foi um trabalho de muito respeito e sensibilidade" – diz ele, que concorreu a vaga com outros 300 candidatos.

No cinema estrelou projetos importantes, entre eles a dublagem de Rami Malek, que dá vida a Freddie Mercury no longa “Bohemian Rhapsody”, pelo qual ganhou o Oscar de melhor ator na cerimônia que aconteceu em fevereiro.Para quem ainda não teve a chance de assistir, aconselho que vejam; o Rami Malek está incrível, sua transformação é impressionante. Aconselho todos a colocarem o show em prol da África (Africa Aid), que aconteceu em 1985, no Youtube e comparar com a cena final do filme. É assustador! – ressalta o ator sobre a atuação do protagonista do longa “Bohemian Rhapsody”.

A coluna foi entrevistar Hugo. Num bate papo descontraído com o repórter Juan Filder, Hugo falou sobre carreira, vida pessoal, e tudo mais que acredita ser essencial na sua luta para ser uma pessoa melhor, e também fazer os outros melhores! Confira!

Que você e um cara multifacetado a gente já esta cansado de saber. Ator, cantor, dublador e apresentador. O que mais te dá prazer em fazer?

Tenho o privilégio de trabalhar numa profissão que é muito divertida, isso é sabido. Ela também tem seu lado muito inverso, pois é uma profissão instável e passível de criticas o tempo todo. Tentativas de boicote, a gente incomoda! A profissão do artista é se comunicar com o que esta acontecendo no seu tempo, então nem sempre essa comunicação é 100% pacífica. Muita gente se manifesta para incomodar. A profissão do artista é olhar para o futuro e imaginar como ele deveria ser. A gente ajuda pessoas a imaginar coisas da vida delas sem compromisso com a realidade, e por isso que a gente conta história das melhores às piores. A gente ajuda as pessoas a imaginar coisas positivas e também as negativas.

Diante de tanto trabalho que você já fez, quais você pode destacar que foram os mais desafiadores, os mais marcantes para você?

Eu queria antes te agradecer pelo enunciado da outra pergunta, que você me chamou de multifacetado. Obrigado por isso. Esse é meu estudo de profissão, abrir o leque de possibilidades e de habilidades para poder cumprir os diferentes formatos artísticos. Sobre os trabalhos que eu fiz agora, eu tenho a sensação que eu ainda não fiz, entende? Tenho muitos trabalhos que me orgulho muito, como o Hair que foi um trabalho que me jogou no mercado há doze anos atrás. Tenho que amar, foi o primeiro grande trabalho que eu fiz. Esses que foram abrindo um caminho que nunca foi aberto antes, eles tem seu valor. Depois em um musical do Rock in Rio; cantei para 60 mil pessoas no palco mundo da edição de Lisboa. Eu tinha também vontade de fazer uma novela em televisão e fui um dos protagonista de Malhação.

São grandes vitórias, né?

Eu comemoro cada uma dessas coisas por elas serem inéditas pra mim. São coisas que, quando eu morava no interior do Paraná, eu jamais imaginava que poderia fazer. A minha vida foi caminhando para uma trajetória muito privilegiada que é uma forma de dizer "abençoada", de forma laica. Foram privilégios que aconteceram na minha vida. Eu tive a oportunidade de ser uma pessoa que viveu e vive uma abundância profissional e pessoal, e com bastante liberdade pessoal para amar e ser feliz.

No mês de Junho vivemos o mês do orguho LGBTQIA+.  Você foi um dos responsáveis por encorajar muitos jovens e artistas a falarem sobre sua sexualidade livremente. Como foi para você assumir isso publicamente, vivendo um momento de grande notoriedade profissional?

O ato de dizer foi muito natural. O que veio antes dele que foi um processo longo e doloroso. Eu não sentia a liberdade de poder existir dentro de uma sociedade que é pautada no preconceito. Em níveis espirituais, existe uma grande parcela de pessoas ainda que tem a sua espiritualidade dependendo de como as outras pessoas amam. Existem livros sagrados de religiões que se deram o trabalho de colocar ali que pessoas como eu são aberrações. Então é muito doloroso e pesado para as pessoas que nasceram LGBT conviverem em uma sociedade dessa forma.

O que falta nessas pessoas?

Enquanto pessoas não conseguirem fazer um equilíbrio entre a fé delas e a doutrina vai ser muito difícil essas pessoas conviverem com pessoas LGBTs, assim como também os LGBTs conviverem com elas. Eu vim de uma família muito conservadora. Eu venho do Norte do Paraná, que é um lugar muito conservador e não existia possibilidade de felicidade pra mim.

Como você percebe onde estamos atualmente nesse aspécto?

Hoje entendo estatísticas que mostram que adolescentes LGBTs têm 30% mais chance de cometer suicídio, que a expectativa de uma pessoa trans é de 28 anos. Os diferentes recortes dentro da comunidade LGBT, eles hoje fazem muito sentindo para mim porque eu sou um sobrevivente! E eu obtive independência financeira, satisfação profissional, sou um homem cisgênero considerado no padrão estético. Hoje eu sei exatamente o lugar de onde eu estou falando para poder reconhecer ser grato pelos previlégio que tive e, ao mesmo tempo, poder fazer alguma coisa. Então eu me sinto muito orgulhoso de ter sido o primeiro ator da minha geração com papeis dados como padrão estético de galã, sendo mocinho e heterossexual dentro das tramas, mas sendo o primeiro a dizer abertamente que nasci gay, e sou um gay ator e um ator gay! E isso significa que os trabalhos que eu escolho eu leio o texto antes.

Como foi para sua carreira assumir sua sexualidade publicamente? Você acabou perdendo papeis? Isso realmente acontece hoje?

Infelizmente sim. Não tem outra forma mais direta de dizer. Eu estou ressignificando minha carreira hoje de outras formas. Hoje eu sou um apresentador na maior parte do tempo. Apresento um programa sobre cinema no canal L!ke - 530 da NET CLARO, um canal de televisão a cabo que não concorre com os outros canais. A gente fala da programação dos outros canais, indica os melhores para as pessoas assistirem, e claro que eu tenho saudade e espero que mude. Dizem que existe seis anos para que pessoas LGBTs que saíram do armário sejam reestruturadas pelo mercado. Eu falo de pessoas que estavam como eu, fazendo testes para audiovisual de 15 em 15 dias com demandas de pessoas querendo trabalhar com você, e isso não aconteceu mais. Estou indo pro quarto ano, então eu espero que daqui a dois anos a gente faça uma nova entrevista, e vou te dizer: olha, passaram seis anos (risos).

Qual seria um sonho pessoal e um profissional que você ainda não realizou?

Profissional, de trabalhar com esses grandes atores como Fernanda Montenegro e Lima Duarte. Poder estar ali cinco minutos, fazer uma cena juntos. E pessoal, eu estou solteito há um ano e meio. E neste tempo estou reestruturando a parte emocional, mas meu sonho é poder ter minha felicidade que tenho hoje estando com outra pessoa, porque eu acabei perdendo com todas as outras pessoas que me relacionei. Eu quero poder ter o mesmo amor por mim mesmo, encontrar alguém que some.

 Assim que acabar a pandemia, qual será a primeira coisa que você quer fazer?

Carnaval de Salvador! Ultimamente estou querendo fazer muita coisa que nunca pensei em fazer (risos).

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