Uma mulher que se encontr debem com ela mesma nos seus 40 anos, advogada com seis especializações, influenciadora digital, escritora, youtuber, feminista, mãe, e uma mulher que diz tentar se descontruir cada vez mais. Essa é a Monique Elias que a coluna entrevistou. Grávida de Aurora em um novo relacionamento, "uma pessoa que está hoje menos preocupada com números, e sim com a realização pessoal" dentro de uma vida que, por muito tempo, foi colocada à prova. A desconstrução de um casamento, a maternidade, vida pessoal e profissional, isso é tudo o que você confere a seguir nessa entrevista!
Difícil não falar em números numa sociedade que se vende pela métrica hoje. Tudo o quê falamos na internet tem impacto direto em quem influenciamos. Como ser uma mulher que se preocupa menos com números, mas ainda sim sabendo que impacta centenas de milhares de pessoas pela internet?
Quando digo que hoje sou menos preocupada com números, significa dizer que isso já foi uma preocupação real. Eu não estava tão preocupada em estar conectada com pessoas. Teve uma fase na internet que tudo eram muitos números e as pessoas eram avaliadas dessa forma. Amadureci e hoje quero estar conectada com as pessoas e compartilhar com elas o que de fato eu sou.
Você já teve medo dentro dessa perspectiva?
Já tive muito medo, porque já fui muito avaliada pelos rótulos. Hoje estou humanizando isso. Em todas as relações e com todas as pessoas. Estou muito mais espiritualizada.
A gente só consegue descontruir o que sabe exatamente que foi construído. Essa desconstrução é leve ou penosa?
Não é leve! É um conflito diário. Eu poderia falar para você que é leve, mas não é. Muitas vezes eu acabo conflitando comigo, com as coisas que eu pensava que acreditava. Aí eu me cerco de informações para que eu possa entender que o padrão que eu vivo não é realidade. Eu preciso entender que o mundo que tem na minha cabeça não é o mundo que existe na cabeça de outras pessoas. Não é leve. E isso é desconstrução. Estou procurando diariamente um espaço de humildade nesse conflito, onde o ego é constantemente aflorado e fala muito alto. Vivi cercada de muito glamour. É difícil demais, mas acredito que já consegui 5%, e eu vou chegar lá! O importante pra mim é o querer.
Como é esse processo? Você busca essa desconstrução de forma coletiva ou tem alguma forma pessoal de atravessar isso?
Faço de tudo um pouco, a exemplo da terapia. Tenho também a minha religião que é o Candomblé, e isso me ajuda muito. Existe ali a questão da ancestralidade e isso me faz refletir que existem vidas que chegaram antes de mim. Então preciso abaixar minha cabeça e entender que existem vidas diferentes da minha e trazer a humildade à tona. Temos que ceder a isso e ter os pés no chão. Faço yoga, medito, começo a analisar e trazer à tona coisas que eu leio. Tento não reclamar e só vibrar coisas boas. Existe sim aquele conflito com a Monique que é vaidosa, que tem ego, que sente inveja como todas as pessoas, mas tento brigar todos os dias contra isso buscando relações saudáveis, porque a saúde emocional sempre foi algo problemático sobre a minha vida.
Sobre saúde emocional... Existe muito inveja. Como você pensa essa questão em um universo tão invejado. Como você se protege desse sentimento numa vida tão exposta na internet?
Curioso, porque quanto mais espiritualizado nós somos, mais sentimos essa energia chegar. Frequento um quilombo e lá, uma vez, um preto velho disse para mim: “pare de vibrar desconfianças”. Às vezes sua vida está boa e você vibra isso e a coisa acaba acontecendo. Então parei de pensar sobre o que as pessoas pensam sobre mim. Vivi muito tempo da minha vida infeliz querendo provar para as pessoas que eu era alguma coisa, pois era muito rotulada pelas pessoas por conta do meu casamento passado. Inclusive escrevi um livro por conta do que os outros pudessem pensar sobre mim. Precisei escrever um livro para dizer "Eu já existia!". Olha a que ponto eu cheguei com toda essa energia. Eu queria a todo tempo provar meu amor, o quanto trabalhava, acordava cedo e dormia tarde, e isso fez com que eu tivesse uma busca grande em querer provar, de fato, quem eu era para as pessoas.
Como você está em relação a isso hoje?
Hoje eu dei uma parada para mim. Eu avaliei que preciso cuidar dos meus filhos. Eles têm um pai que é muito mais velho. Eu não tenho família, então eles só têm a mim. Pensei: como eles seriam criados por uma mãe deprimida que tivesse que viver tomando remédios. Precisei sarar. E sarar vem de dentro para fora. As pessoas nunca vão deixar de pensar o que querem pensar. Precisei entender que as pessoas são assim e o mundo não será justo sempre. As pessoas não têm a obrigação de serem como eu desejo. Então tenho que encarar esses desafios da vida como uma pessoa adulta, reconhecendo que preciso aprender a enfrentar isso. Tem dias, claro, que a gente acorda parecendo que se alguém der um espirro vamos chorar. Mas eu posso chorar, que depois seco as minhas lágrimas e recomeço.
Vivemos uma época passada em que a saúde mental e a inteligência emocional não eram faladas. Hoje isso mudou. Aprendemos na marra essa questão em nossa geração. Hoje, que tipo de mãe você é em relação a isso?
Sou uma mãe à moda antiga porque não tive mãe e pai. Fui conhecer meu pai com 14 anos. Fui criada com uma avó materna que não me criava como filha. A gente tinha uma troca. Ela deixava claro o tempo todo que eu tinha que fazer as coisas naquela casa para pagar o que eu comia. Ela falava: "se a sua mãe não te quis, eu não tenho obrigação". Então não tive aquela criação de laço afetivo, com abraço, bolo de aniversário... Procuro ser a mãe que eu não tive. Sou a mãe que dá banho, que conversa, que coloca de castigo quando precisa, e eu acho o sofrimento uma coisa natural. Acho que existe na gente um lugar onde o sofrimento deve comparecer e ele fica ali e está tudo bem. A pessoa tem que saber lidar com isso e ouvir não. Meus filhos têm uma condição financeira muito boa e privilegiada. E como a gente tem guarda alternada, eles moram comigo sete dias e os outros sete com o pai.
E como é isso?
O pai é um ótimo pai. Ele não sabe dizer não. Eu que faço essa parte, e quando preciso de um pouco de reforço peço ao pai também, que me ajude nessa parte. Ele não me nega nada, pois é o melhor pai do mundo. Ele sempre concorda, mas eu sinto que eu sou a que coloca as coisas em ordem. Mas compreendo isso porque o pai é mais velho, já entendeu muito a vida, e está naquela parte que deseja curtir mais os filhos hoje.
E agora vem mais uma filha, né? Como é essa diferença agora entre eles dentro da sua maternidade?
João tem 19 anos, fruto do meu primeiro casamento. Eu casei com 18 anos e fui mãe aos 22. Mas nossa relação é idêntica a dos gêmeos mais novos. Eu cuido, brigo. Com o João tivemos muitos momentos ruins, porque quando me separei do pai dele eu era muito agredida. O pai dele me batia a qualquer hora por qualquer razão. Para me separar foi muito difícil, ele ficou cinco anos andando atrás de mim na rua. Ele morreu andando atrás de mim. Depois disso conheci o pai dos meus filhos. A gente namorou, casou, e eu nem queria mais ser mãe, mas ele me convenceu numa terapia de casal, pois ele queria muito ser pai. Aí vieram os gêmeos. Foi bem diferente, porque ali eu tinha uma estabilidade familiar, não tinha brigas. Ele acabou adotando o João. Nós todos estávamos entrosados na vida, em paz, sem turbulências como no primeiro casamento. E agora eu estava vindo de uma depressão, com trombose, quando eu e o Matheus assumimos uma relação logo após a separação. Isso deu o que falar na minha vida. Mas agora está tudo tranquilo porque eu e meu ex-marido sentamos para conversar e entendemos que nós dois funcionamos juntos.
Explica melhor isso...
Logo quando assumi meu relacionamento com Matheus, o pai dos meus filhos acabou sendo cercado por muita gente que não prestava naquele momento. A sorte é que ele se deu conta disso, ninguém precisou sinalizar. Ele ficou cercado de pessoas que queriam meu mau. Tive meu tempo de espera porque sei que o amor é uma coisa que vence, e tive o meu tempo de espera. Sei o coração que o pai dos meus filhos tem. Hoje estamos numa paz. Ele me conta dos casos dele, eu falo com ele do meu, e decidimos que somos amigos e é assim que vai ser. Se vier uma pessoa de fora fazer o que fez antes, não vai conseguir mais nada. A gente tem um bem em comum muito grande que são nossos filhos. E precisamos fazer isso dar certo. Eu e o Matheus, a gente tinha se separado no meio dessa discussão do meu divórcio. Não que esse tenha sido o motivo, mas eu decidi me separar porque não estava bem mentalmente para estar dentro de outra relação. Na semana do Dia das Mães voltamos a nos aproximar. Ali, percebi que já estava melhor para viver esse relacionamento, pois já tinha assinado o divórcio. E o pai dos meus filhos já estava morando com outra pessoa há cinco meses. Então eu estava melhor emocionalmente. E aí nos reaproximamos e logo quando saí com Matheus nesse reencontro engravidei.
Você esperava ser mãe novamente?
Não esperava, mas também não tive uma prevenção né? (risos) Me assustou porque eu não queria mais pensar no que as pessoas fossem falar. Não queria que as pessoas validassem minha relação dizendo que nós estaríamos juntos porque eu tinha engravidado. A gente está junto porque a gente se gosta.
Você viu?
Você se vê hoje dentro de uma mulher de 40 anos? E te assustou ficar grávida no meio de uma pandemia?
Dizem que eu tenho voz e jeito de adolescente (risos), mas sou uma mulher de 40 anos. Sempre tive muito medo de ter Covid e a gravidez dá um medo maior. Eu tenho trombose, então a minha médica não me liberou ainda para tomar vacina. Ela quer esperar pelo menos passar de 25 semanas, e eu só estou com 16.
A gente sempre quer chegar a algum lugar. Vejo que você tem uma vocação artística. Acompanho os vídeos com as crianças na internet. Como isso começa? Isso parte 100% de você?
Sempre gostei muito da câmera, amo comunicação. As assessorias têm medo quando abro a boca para falar porque sempre falo de tudo e acaba gerando polêmica. A última vez que dei uma entrevista foi parar em tudo quanto é portal porque falei que faltava na empresa do meu ex-marido um comitê de diversidade. Eu gosto muito dessa transparência de poder saber o meu lugar no mundo e não ter medo. Eu gosto muito de estar no entretenimento, de brincar. Por mim faria muito mais. Mas a internet tem uma consequência que é a saúde mental. Então não consigo falar tudo da minha vida que gostaria, até porque seria muito julgada. Eu acho que a internet tem as pessoas que elas escolhem para massacrar, e vejo que estou no rolo desse massacre. Tudo o quê eu faço parece que tem um peso maior.
Vejo vários vídeos que você faz. Você pensa em cair de cabeça na carreira de atriz? Você realmente interpreta isso como vocação, ou como apenas uma maneira de ser?
Acho que eu tenho muita ligação com o artista. Pode ser uma vocação e também um jeito de ser. Já fui enfermeira em hospital do câncer fazendo aqueles palhaços para os pacientes rirem, é uma mistura de tudo isso e aquela vontade também de estar realizada se isso acontecer. Mas eu acho que me vejo mais em um programa, mas tenho a consciência que isso não acontecer não será um problema. Óbvio que vou estudar e me preparar para isso. Acho que temos que treinar habilidades. Não acho que dá para acontecer do nada. Mas se acontecer estou de braços abertos. Já sou atriz formada pela CAL e também pela Escola de Atores do Wolf Maya. Junto com minha assessoria estou estudando uma maneira, claro, respeitando meus limites, mas estou super aberta.
Existe algum projeto hoje sendo planejado?
No curso que fiz agora meu mentor disse que as pessoas estão muito imediatistas com essa coisa da internet. Mas eu não concordo com isso. Eu acho que o movimento de quadros dentro de um programa cria muita identidade com o público. Ainda sou muito fã do tradicional e do clássico. Gosto muito, por exemplo, da Ana Maria Braga. Gosto quando ela cozinha, porque eu amo cozinhar. Gosto quando ela dá uma palavra que transforma a vida das pessoas. Isso é uma coisa que fala comigo porque é muito bom melhorar a vida do outro. Gosto dos conhecimentos gerais que ela tem, qualquer assunto que é pauta ela discute com humildade e autoridade. Gosto desse movimento. A Ana é uma pessoa que admiro muito dentro desse segmento e é um desejo que eu teria. Mas precisa acontecer.
Você fez uma web série. Como ela nasceu?
Tenho um quadro no meu canal que as pessoas me escrevem e eu fico dando conselhos. Achei curioso uma inscrita do canal me escrever aquela estória. Estava iniciando a pandemia e eu falei: que estória! Nunca tinha lido algo que mexesse também tanto comigo. Ela se achava feia, mas conquistou o professor que era considerado o mais bonito da academia. E quando ela consegue se envolver com ele, descobre com ele, ainda no motel, por meio de uma mensagem no celular, que ele tem alguém. E conversando com ele descobre que esse alguém era um homem e acabam virando um trisal. Mas isso não rola e ela acaba ficando amiga dos dois. E resolvi escrever essa web série. Minha vida é um movimento. Vou lá e simplesmente faço!
Você já disse que é muito detalhista com a sua carreira de empresária, com planejamento de dinheiro, muito cuidadosa. Mas com essa questão artística então você é mais impulsiva? Aquela pessoa que vai lá, coloca em prática e vê no que vai dar?
Tem limites. Nessa parte não me importo com o que os outros vão pensar, porque acho que dá para separar a Monique com o que você está fazendo. Acho que me realizo tanto fazendo isso, tem tanta entrega. Fico tão feliz! Mas hoje quem escolhe quem acontece é a internet e a televisão depois chega para dar autoridade.
E esses vídeos que você faz entre família? Você cria tudo isso, ou seus filhos dão pitacos? Como é isso?
Penso tudo (risos). Gostaria de fazer muito mais. Eu viajo (risos), acho muito gostoso. Existe uma inquietude que paira dentro de mim. Se eu colocar no papel tudo o quê eu quero fazer não consigo só com essa vida.
Como você observa esse tempo em sua vida e quais são as prioridades na vida pessoal e profissional?
Como disse, se eu colocar no papel tudo o quê desejo fazer não vai caber nessa vida. Mas eu acho que a primeira coisa que tem que acontecer hoje é a desconstrução da Monique ‘esposa do fulano’. As pessoas não conseguem me desligar desse passado. Infelizmente isso não aconteceu. Não que isso seja algo que me incomode, mas incomoda minha nova história como mulher, e não é legal. Até a nota para falar da minha gravidez saiu a "ex-mulher do dono da Embelleze." É preciso quebrar essa referência.
Você não acha que isso é uma coisa que não depende de você? Você não considera que isso é reflexo também de uma sociedade machista?
Sim. Talvez isso não dependa de mim, talvez seja um trabalho impossível, mas quero tentar descontruir. Por isso vou continuar estudando, me mostrando nesse sentido nas redes sociais, e quem sabe essa desconstrução aconteça.
Mas você pensa em televisão, por exemplo, em novelas?
Sim, e infelizmente tive que abrir mão de uma grande oportunidade na RecordTV em razão da pandemia. Eu descobri que estava com Covid dois dias antes de firmar um papel que já estava certo. Mas percebo hoje que não era a hora, não era para acontecer. Eu ia fazer uma das esposas do Rei, e só dependia do teste do Covid. Mas algumas coisas saem do nosso caminho para que outras melhores entrem, e eu vou esperar essas coisas melhores.
Vamos falar do feminismo? Você acha que estamos caminhando para uma mudança, ou as mulheres só têm apenas um mecanismo melhor de denunciar o que acontece com elas?
Primeiro acho que essa mudança tinha que vir mais das mulheres. Ela acontece em pequena escala, mas acontece. Eu perdi muitas seguidoras quando me declarei feminista. Percebi que isso era um desafio para mim, mas optei por colocar muitas informações sobre isso no meu perfil. As mulheres não se dão conta de como o patriarcado afeta a vida delas, e o quanto elas são prejudicadas com essa construção que foi feita com o machismo. Muitas são extremamente machistas, mas não se consideram. E ainda acham que as feministas são umas chatas. Muitas consideram o feminismo o contrário do machismo e isso está errado. Isso seria 'femismo'. Já o feminismo é apenas a luta por direitos iguais. Elas não sabem a diferença.
Você é otimista em relação ao futuro? Você acredita, por exemplo, que a geração dos nossos filhos vai conseguir descontruir isso?
Acredito muito! Meu filho João tem 19 anos, por exemplo, e é bem desconstruído, não tem preconceitos, e percebo isso nos gêmeos também.
* Esse colunista pegou apenas trechos de uma entrevista que fez com Monique Elias em seu canal do Youtube. Confira aqui a íntegra!