Chega ao fim na Justiça um enorme e milionário processo - com pedido inicial de R$ 1 milhão a título indenizatório e também o recolhimento da canção em todo o mercado mundial - envolvendo uma música do rapper Marcelo D2, "A Maldição do Samba", que faz parte do álbum "A Procura da Batida Perfeita".
A ação foi ingressada na Justiça pelo músico Marku Ribas três dias antes da sua morte, em 2013. Sem saber que estava sendo processado, o cantor Marcelo D2 chegou a fazer uma publicação na época lamentando a morte de quem chamou de ídolo, agradecendo a inspiração para sua música, sem saber ainda que estava sendo acusado por plágio pelo falecido na Justiça.
Três dias antes do falecimento, Marku Ribas apresentou um atestado à Justiça e informou que tinha urgência na tramitação do processo, pois enfrentava um carcinoma no pulmão. A viúva do músico Maria de Fátima Diniz e os filhos deram sequência ao processo, que foi originado na Justiça de Belo Horizonte.
Na ação, o músico Marku Ribas pedia R$ 1 milhão de indenização, além da retirada da canção de todo o mercado. Entretanto, como a gravadora e o rapper Marcelo D2 estão sediados no Rio de Janeiro, uma batalha foi travada apenas para julgar onde o processo deveria ser realmente julgado, pelo Tribunal de Justiça de Belo Horizonte, ou pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Após uma batalha que levou quatro anos, a Justiça de Minas Gerais entendeu que a Justiça do Rio de Janeiro deveria julgar o caso.
Quando Marku Ribas morreu - três dias após ingressar com uma ação - uma matéria do Jornal O Globo destacou o depoimento póstumo feito por D2 pelo Twitter, homenageando o músico. Segundo a matéria veiculada no dia 07/04/2013 às 8h16, entre vários artistas que lamentavam a morte do músico, "um deles foi justamente o rapper Marcelo D2 fazendo um agradecimento póstumo por ter usado a base de “Zamba Ben” em seu sucesso A maldição do samba."
Ribas acusava D2 de plagiar integralmente a melodia de "Zamba Ben", que acabou na época se tornando um dos maiores sucessos nos bailes blacks de São Paulo. Nos documentos que a coluna teve acesso exclusivo, D2 foi acusado de apropriação indevida da melodia sem autorização do autor, sem creditá-lo em relação aos direitos de propriedade devidamente, além de não remunerar o autor da melodia com a devida retribuição econômica, o que violaria todos os seus direitos e teria configurado uma prática ilícita de violação contra os direitos autorais.
Resultado do processo
Depois de anos de luta judicial - entre a família, a gravadora e o rapper - na comarca de Belo Horizonte o processo chegou à Justiça do Rio de Janeiro, e mais uma vez todos foram intimados. Entretanto, depois que a ação foi distribuída para a Justiça carioca a família e os advogados de Marku Ribas não se manifestaram mais no processo, passados dois anos de intimação. Pelo abandono do processo, o juiz deferiu recentemente a extinção do processo e seu arquivamento.
Ainda não se sabe o que aconteceu com a família do músico para o abandono processual. Nos bastidores ficou no ar uma dúvida: será que teriam feito um acordo extrajudicial com o cantor e, para não vazar - uma vez que o processo era público e já estava sendo acompanhado por este colunista - a melhor solução foi abandonar os autos, e assim manter toda negociação em sigilo? A verdade é que, até o momento, ninguém sabe.
Marco Antonio Ribas foi mundialmente conhecido no cenário musical. Ele começou a carreira como baterista de uma das bandas que acompanharam a cantora Clara Nunes ainda em começo de carreira. Quatro anos depois, integrava a cena pós-bossa-nova. Ele viajou pelo Caribe percorrendo Barbados, Martinica e Jamaica - onde conheceu Bob Marley nos tempos do grupo The Wailers - voltando para o Brasil em 1972. No ano seguinte, Ribas gravou o seu primeiro LP, “Marku”, que teve a música “Zamba Ben” como destaque desse disco.
Marku Ribas também participou do clipe de “Just another night”, faixa de “She’s the boss”, disco solo do cantor dos Rolling Stones, Mick Jagger. No ano seguinte, ele tocou percussão na faixa “Back to zero”, do disco “Dirty work”, dos Stones. E foi em meados dos anos 2000 que Ribas chamou atenção de jovens admiradores importantes no cenário musical, entre eles Marcelo D2.